Fui ao mercadocomprar flores - as da jarra já estava murchas e a cair a flor
e comprei fruta.
Atrás de uma das bancas estava uma senhora com um olhar fechado e baixo
tinha as mãos encardidas de verde e ao seu lado uma menina com os seus 13 anos.
Quando me aproximo da banca
vejo que estava atarefada a fazer um ramo - de rosas vermelhas com verdura
à sua frente estava um senhor (senhor não... de senhor não tem nada)
vestido de fato cinza
com uma arrogância difícil de encontrar ao virar a esquina - felizmente
dirige-se à senhora e diz "isso mais parece um ramo para funeral do que para uma senhora"
a senhora, humilde, diz "mas porquê, não acha bonito?"
ele dá um Não redondo e acrescenta "nem coloca uma prata?"
"Ainda não terminei, vou colocar um papel bonito com laço" - sempre com voz meiga e humilde
"Prefere o papel vermelho ou verde?"
"Oh minha querida você é que é a florista, se eu fosse não estaria aqui. E só levo esse porque não tenho tempo para ir mais lado nenhum".
Partiu-me o coração e não quis acreditar...
Mal ele vira costas eu dirijo-me à senhora, que já me tinha perguntado se não me importava de esperar, e sem dizer boa tarde digo "aquele ramo estava lindo".
A senhora com a voz a tremer diz-me "o senhor não gostou".
"Eu percebi, mas o senhor para além de não ter bom gosto é arrogante. O ramo estava lindo e acredite porque é verdade".
Com os lábios para baixo diz "também gostei. Mas isto deixa uma pessoa que está a iniciar desanimada, mas eu preciso de fazer isto".
"Força, continue porque a senhora tem jeito e como sabe - não se podem agradar a gregos e troianos."
Escolhi as minhas flores...
Ao dar-me o troco quase deixa cair o dinheiro e diz "Estou nervosa, desculpe".
"Não fique. A senhora é boa pessoa e faz ramos lindos. Não vai ser um homem arrogante que só porque está de fato pensa que tem bom gosto que a vai desmotivar, pois não? Para a semana venho buscar mais flores".
É difícil descrever o olhar desta senhora.
Apetecia abraça-la e dizer "já passou" como se faz com uma criança.